Os Trigos Ancestrais: Nutrição, História e Ciência por Trás dos Grãos do Passado
- Cora Alimentos
- 9 de abr.
- 3 min de leitura
Em um mundo cada vez mais dominado por alimentos ultraprocessados e monoculturas industriais, cresce o interesse por ingredientes mais puros, nutritivos e conectados com a tradição alimentar de nossos antepassados. Nesse cenário, os trigos ancestrais vêm ganhando destaque — não apenas como uma alternativa saudável ao trigo moderno, mas como um resgate à sabedoria milenar que valoriza a diversidade e o respeito à natureza.

O que são trigos ancestrais?
Os trigos ancestrais são variedades antigas de trigo que preservam sua estrutura genética original, sem sofrer as alterações causadas por hibridizações e cruzamentos forçados que marcaram o desenvolvimento do trigo moderno. Entre os tipos mais conhecidos estão o Einkorn, o Emmer, o Kamut Khorasan e o Espelta.
Esses grãos são cultivados de forma sustentável, muitas vezes por pequenos produtores, e mantêm viva uma tradição agrícola que prioriza a qualidade e a saúde do solo, da planta e do consumidor.
Diferenças entre o trigo ancestral e o moderno
Enquanto o trigo moderno foi selecionado ao longo das décadas para aumentar sua produtividade, elasticidade do glúten e resistência a pragas, esse processo reduziu significativamente sua diversidade nutricional. Além disso, essas modificações tornaram o glúten mais resistente e inflamatório, contribuindo para o aumento de sensibilidades alimentares e doenças autoimunes.
Os trigos ancestrais, por outro lado, oferecem:
Melhor digestibilidade
Maior biodisponibilidade de nutrientes
Menor carga inflamatória
Mais sabor e aroma
Redescobrindo o valor nutricional dos trigos antigos
Diversos estudos científicos vêm reforçando os benefícios dos trigos ancestrais. A seguir, destacamos algumas pesquisas que ajudam a entender por que esses grãos merecem um lugar de volta à nossa mesa.
1. Einkorn: riqueza em antioxidantes e ácidos graxos saudáveis
Um estudo publicado na revista Agronomy mostrou que o trigo Einkorn apresenta altos níveis de antioxidantes, polifenóis e ácido oleico (um tipo de gordura monoinsaturada benéfica para o coração). Esses compostos ajudam a proteger o corpo contra os danos causados pelos radicais livres e contribuem para a saúde cardiovascular.🔬 Leia o estudo completo
2. Trigos antigos são mais ricos em proteínas e minerais
Uma revisão publicada na revista Foods destacou que as variedades antigas de trigo têm perfis nutricionais superiores, com maior teor de proteínas, ferro, zinco e magnésio. O estudo também apontou desafios no processamento desses grãos, devido às cascas mais resistentes, mas reforçou seus benefícios funcionais.🔬 Leia o estudo completo
3. Perfil fitoquímico mais complexo e funcional
Pesquisadores da Universidade de Bolonha analisaram variedades antigas e modernas de trigo duro. O resultado? Uma maior diversidade de compostos fenólicos — como flavonas, lignanas, cumarinas e antocianinas — foi encontrada nos grãos ancestrais. Alguns desses compostos estavam presentes apenas nos genótipos antigos, indicando seu potencial nutracêutico.🔬 [Leia o estudo completo – PubMed DOI: 10.1016/j.chroma.2009.08.041]
4. Einkorn e a menor imunogenicidade das gliadinas
Outro estudo, publicado no Frontiers in Nutrition, investigou a digestibilidade das gliadinas (proteínas do glúten) no trigo Einkorn em comparação ao trigo durum. Os resultados indicaram que o Einkorn possui maior digestibilidade e menor potencial imunogênico, o que pode ser promissor para pessoas com sensibilidade ao glúten (embora ainda não seguro para celíacos).🔬 Leia o estudo completo
5. Kamut Khorasan e maior proteção antioxidante
Um experimento com ratos alimentados com pão integral de trigo moderno e pão de Kamut Khorasan, publicado no PubMed, demonstrou que o trigo ancestral promove maior proteção contra estresse oxidativo. Os efeitos foram ainda mais intensos quando o pão foi preparado com fermentação natural, sugerindo que o uso combinado de grãos antigos e técnicas tradicionais pode ser uma poderosa estratégia de prevenção de doenças.🔬 [Leia o estudo completo – PubMed DOI: 10.2741/3808]
Por que voltar ao passado pode ser o futuro da nutrição
O movimento em direção aos trigos ancestrais não é apenas uma tendência gourmet ou nostálgica — é uma resposta consciente à forma como nos alimentamos hoje. Diante de epidemias de intolerâncias alimentares, doenças autoimunes e desequilíbrios intestinais, buscar grãos menos manipulados, mais nutritivos e cultivados de forma respeitosa pode ser um passo crucial para uma alimentação mais funcional e equilibrada.
Além disso, o cultivo dos trigos ancestrais resgata a biodiversidade agrícola, fortalece pequenos produtores e valoriza métodos sustentáveis, contribuindo para um sistema alimentar mais justo e saudável.
Conclusão
Incluir trigos ancestrais na alimentação é mais do que uma escolha nutricional — é um ato de reconexão com a natureza e com nossas raízes. Ao resgatar esses grãos antigos, estamos cultivando saúde, diversidade e tradição. E talvez, mais do que nunca, esse seja o verdadeiro caminho para nutrir o corpo e a alma.
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